Atenção

Crianças e internet - um debate necessário

YouTube nega ressurgimento da boneca que estimula crianças a fazerem coisas ruins, mas psicólogos debatem os traumas gerados

Divulgação -

A boneca Momo voltou aos debates ao longo da semana por supostamente aparecer em vídeos destinados a crianças pequenas. A personagem, com figura assustadora por seus olhos esbugalhados e sorriso macabro, sugere autoflagelo e outras maldades, segundo relatos. O YouTube, principal plataforma de vídeos do mundo, nega ter encontrado indícios da presença na sua versão kids. No entanto, a questão reacendeu as discussões sobre o contato das crianças com a internet e até onde isso pode extrapolar os limites do saudável.

Uma cartilha, datada de 2016, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), recomenda o desencorajamento e até proibição da exposição às telas para crianças com menos de dois anos, especialmente horas antes de dormir. Entre dois e cinco anos o indicado é no máximo uma hora diária. E o texto ainda sugere fortemente que pais não deixem crianças e adolescentes isolados em seus quartos tendo contato com celular, computador e televisão. Os dados da SBP dizem que 80% das crianças e adolescentes entre nove e 17 anos são usuários de internet, acessando intensamente e, em 66% dos casos, mais de uma vez por dia, sendo 83% deles através do celular.

Os malefícios do contato podem ser analisados através de diversos pontos, explica o professor de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Tiago Neuenfeld Munhoz. Pela ótica da segurança da internet, é fundamental monitorar o conteúdo, através de aplicativos de pareamento ou com limite de idade e estratégias de controle parental. Após o primeiro aparecimento da Momo, somado aos desafios da Baleia Azul, que também estimulava a automutilação, o YouTube lançou a plataforma YouTubeKids, com conteúdo controlado para crianças e tentando manter-se livre de violência. A empresa se manifestou através do twitter para negar que haja um novo aparecimento da Momo. “Não encontramos nenhum vídeo que promova um desafio Momo no #YouTubeKids. Qualquer conteúdo que promova atos nocivos, ou perigos, é proibido no YouTube. Se encontrar algo parecido, denuncie”, sugere a nota.

Pelo lado psicológico e da saúde mental, ele diz que as crianças costumam representar um comportamento estimulado pelos pais. Portanto, se os responsáveis costumam passar horas no celular ou computador, a criança tende a fazer o mesmo. Por isso, além do diálogo, as atividades lúdicas são fundamentais. Eles acabam por evitar inatividade física e sedentarismo, trazendo estímulos como leitura, atividades artísticas entre outros.

O Diário Popular teve conhecimento de pelo menos dois casos na região de crianças que tiveram contato com o vídeo. Uma delas contou que o primo de seis anos começou a não querer ficar sozinho e, quando questionado, disse ser por medo da Momo. A amostragem citada pela SBP diz que pelo menos 21% dos adolescentes já deixaram de comer ou dormir por causa internet, e 10% já pesquisaram maneiras de realizar automutilação.

Polícia Civil de olho
Em nota no seu site, a Polícia Civil gaúcha faz um alerta sobre o possível novo aparecimento de vídeos da boneca Momo. “A Polícia Civil pede que os pais prestem muita atenção nas programações que os filhos estão assistindo na televisão e na internet, bem como com a utilização de smartphones e tablets”, diz o material. No entanto, diz não ter havido denúncias no Estado. Para denúncias, foram disponibilizados os seguintes contatos: 181 - Disque Denúncia; 197 - Plantão de Emergências; Whatsapp/Telegram (51) 98418-7814.

Cuidado e diálogo para evitar traumas
O exemplo dos pais é também ressaltado pela psicóloga e pedagoga Carolina da Silva Büttow. “O pai que fica excessivamente no celular ou no computador não pode exigir que o filho não faça o mesmo”, lembra. E estes excessos, segundo ela, prejudicam a socialização e o desenvolvimento da criança. Os traumas podem vir também de outras situações, como contato acidental com filmes de terror, violência e até pornografia.
Embora a criança precise de certa privacidade, a orientação é fundamental. Através do diálogo, ajudar o filho a perceber que há coisas negativas até mesmo em programas infantis que possam estimular mentiras, violência e manipulação. Assim, com a noção de que a fantasia da tecnologia é diferente do real, é importante dar um voto de confiança à criança.

A percepção de traumas pode ser notada principalmente na escola, pela dificuldade de socialização ou excesso de agitação, por vezes de forma agressiva. Por isso, a atenção ao comportamento é fundamental, criando esse vínculo de confiança, sem a criança ter medo de reprimendas e punições. “Se a criança tiver confiança e o pai tiver paciência para ouvir o relato, ele poderá ficar em alerta”, garante. Caso possíveis traumas ocorram, a sugestão é ver se a criança consegue lidar com isso e, se não, procurar ajuda psicológica, seja em consultório, seja na escola.

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